Como grandes talentos são forjados

Paixão e persistência são dois ingredientes básicos para se formar talento. Seja qual for o tipo de talento e maestria que você busque, é necessário montar uma rede neural que o ative, e para tal, é preciso de muita energia e tempo, que por sua vez requer uma fonte contínua de motivação. 

Como você pode acender esse fogo e alimentá-lo continuamente para que alcance o estado talentoso? Existem obviamente infinitas maneiras de “ligar os motores”, ou a ignição necessária que desperta o desejo de se ser talentoso. Mas aparentemente, a mais comum é o impacto que exemplos de pessoas que são talentosas, famosas, ou bem sucedidas causam. Desde recém-nascidos aprendemos por modelagem, pela observação, pela repetição. Mantemos essa mesma habilidade na vida adulta, especialmente quando interagimos com aquelas pessoas que julgamos serem levemente parecidas conosco, que nos tragam aquela sensação de “se ela conseguiu, eu também posso!”. 

Uma vez ativado esse anseio, partimos para busca de pessoas e lugares onde possamos aprender mais e conhecer pessoas com o mesmo interesse. É muito mais fácil construir talento quando estamos em alguma escola, cidade ou comunidade virtual. Além de aprendermos pela observação, aprendemos pela interação, pela co-construção de conhecimento. Essa é a importância dos tais “ecossistemas”: lugares que são viveiros que alimentam continuamente com mais lenha, esse fogo que busca ser talentoso. 

Quanto mais você perceber que para desenvolver um talento não é necessário ter nascido especial, em berço esplêndido, mais você se sentirá motivado a continuar buscando o sonho. 

Para manter a chama acesa, precisamos ver em ação nossos ídolos. Daí a importância de termos eles como mentores, para que possamos aprender como eles chegaram lá. 

Ter clareza e lembrar constantemente sobre o valor que ter aquele determinado talento tem para você também serve como um amontoado de lenha. A busca pela aquisição de um talento demanda disciplina, sabe quando falamos que treinamos algo na “força do ódio”? A força do ódio, na verdade, é a consciência de que é necessário esforço e cadência para nos desenvolvermos. Pensar no resultado que esse esforço vai gerar e o valor que esse resultado tem para sua vida vai te manter nos trilhos.

Do ponto de vista biológico, não existe nada melhor para desenvolver um talento do que a repetição atenta. Nenhuma quantidade de leitura, pensamento, imaginação, absorção de conteúdo se compara à ação, disparando um impulso pelo sistema nervoso, consertando os erros e aprimorando o circuito. 

Quando operamos na fronteira da nossa capacidade e cometemos pequenos erros, encontramos as melhores oportunidades para nos aprimorarmos. Ë quando temos que desacelerar uma atividade, perceber o erro, corrigi-lo e aprender. 

Os melhores programas de treinamento ajudam os indivíduos a compreender primeiro toda a atividade e depois a quebram em pequenos pedaços, para praticar cada etapa, antes de executar toda a sequência. 

São necessárias mais de 10 mil horas de prática, e mesmo no pico de performance, grandes talentos ainda praticam e se exercitam em sua atividade de 3 a 5 horas por dias. Estima-se que são necessárias 3 mil horas para adquirir as técnicas básicas ou fundamentos, 3 mil horas copiando os talentos que nos inspiram e 4 mil horas desenvolvendo nosso próprio estilo. 

Suas atuais capacidades podem, e devem, ser usadas como ferramentas para obtenção de novos talentos. Na ciência do desenvolvimento humano temos evitado focar no desenvolvimento de fraquezas, na eliminação daquilo que não se faz bem. Temos olhado cada vez mais para as habilidades que já existem na pessoa e as combinado de tal forma que compensem aquilo que não está apresentando boa performance, e mais, acelerando fortalezas para que elas façam parte do processo de aquisição de um talento. 

É indiscutível a importância de técnicos, treinadores e professores na busca de nos tornarmos grandes talentos. Dumbledore e Harry Potter, John Wooden e Kareem Abdul-Jabbar, Q e James Bond, Sir Alex Ferguson e Cristiano Ronaldo, Gandalf e Frodo, Bernardinho e Giba, Yoda e Luke, Larisa Preobrazhenskaya e Anna Kournikova, Dory e o pai do Nemo…essas são apenas algumas das duplas reais ou fictícias que representam o que há de melhor na humanidade: a relação entre o herói e seu mentor.

Esses magos do talento têm uma sensibilidade extraordinária com as pessoas que treinam, conseguindo personalizar a mensagem para cada tipo de personalidade. Eles escutam mais do que falam e parecem ser alérgicos a discursos motivacionais. Dedicam a maior parte do tempo de interação oferecendo pequenos e específicos ajustes. Eles conseguem examinar, diagnosticar e prescrever em segundos. Eles são mestres nas leis do aprendizado: explicam, demonstram, imitam, corrigem e repetem. Eles trazem consigo um currículo do que o talento tem que aprender e conseguem sair da literalidade das tarefas e por isso geralmente falam por analogias. Eles não buscam grandes mudanças de uma hora para outra, mas pequenas melhorias a cada dia: gradualmente, e daí, de repente!

Os founders podem trilhar essa jornada através de alguns passos: 1) reacendendo diariamente o fogo da paixão lendo, ouvindo e assistindo founders que admiram e que os lembrem o propósito que a jornada tem; 2) treinando diariamente os fundamentos do nosso jogo: product management, growth hacking, company building, fundraising, thought leadership, co-founder management e talent management. A melhor forma de treino é absorver conteúdo técnico sobre esses temas todos os dias e aplicar kaizen (achando e melhorando pequenos problemas) nessas áreas no dia-a-dia; 3) buscando mentores e coaches nesses temas específicos ou grandes generalistas.

Vamos explorar cada um desses 3 elementos com profundidade nos próximos textos, sempre às segundas-feiras.