Sempre me fascinou observar como os grandes ciclos tecnológicos e macroeconômicos moldam o destino do nosso dia a dia em empreendedorismo. Já vivi alguns desses ciclos, tanto como empreendedor quanto como investidor. E em todos eles, a única certeza que encontrei foi a incerteza. Ao longo da minha trajetória, descobri que existe um ciclo ainda mais determinante: o emocional e o intelectual dos personagens que estão jogando esse jogo.
Quando olho para trás, lembro quantas vezes fui testado. O sonho grande sempre tem um custo e não é apenas financeiro ou estratégico. É também emocional. Houve momentos em que me senti diante de uma bifurcação cruel: ou eu parava de sonhar grande, ou aceitava o risco de morrer tentando. Essa é uma sensação que todo founder reconhece em algum grau.
Na minha própria jornada, aprendi que atravessar essas fases exige um arsenal de ferramentas pessoais. Eu precisei buscar ajuda de diferentes formas: terapia, coaching, conselhos de pares, estudo de metodologias de gestão, exercícios de autoconhecimento e até práticas simples de rotina que me ajudavam a manter os pés no chão. Não existe uma fórmula única. O que existe é a disposição de admitir nossas fragilidades e construir mecanismos para não sermos esmagados pela pressão.
O fundador que ignora sua saúde mental e emocional pode até avançar rápido, mas dificilmente sustenta a jornada. Afinal, a cada rodada, a cada decisão, a cada pitch, a incerteza aumenta. São mais de 10 mil decisões tomadas ao longo do caminho. Três por dia, todos os dias. É impossível atravessar essa maratona sem desenvolver uma gestão pessoal de risco.
Eu costumo organizar essa gestão em três dimensões:
- Raivas: os conflitos que surgem nos papéis, responsabilidades, clientes, competidores, investidores.
- Medos: os fantasmas internos e externos, como não chegar ao product-market fit, não captar, perder relevância tecnológica, falhar com o time.
- Protagonismo: o espaço de crescimento, onde enfrentamos conversas difíceis, estudamos, pedimos ajuda, praticamos a escuta e aprendemos com advisors.
É nesse terceiro campo, o protagonismo, que reside a diferença entre sucumbir e evoluir. Foi nele que encontrei os caminhos para transformar raiva em energia produtiva e medo em coragem fundamentada.
Por isso, quando falo de sucesso, penso em algo além do valuation ou da manchete do jornal. Para mim, sucesso é a paz de espírito que vem da certeza de que fiz tudo o que estava ao meu alcance para ser o meu melhor.
O Brasil já mostrou que é capaz de formar unicórnios. Agora, nossa missão é ir além, rumo a decacórnios. Mas só chegaremos lá se soubermos cuidar da saúde emocional e intelectual dos founders. Porque, no fim das contas, o maior ativo de qualquer jornada empreendedora é a capacidade do fundador de se manter inteiro, lúcido e saudável diante da incerteza.
Este conteúdo foi apresentado durante o Startup Summit de 2025.
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